Projeto

Rebento é uma travessia poética e visceral pelas marcas da relação entre mãe e filho. Dançada por um elenco masculino, a obra propõe um mergulho sensível nos laços que moldam afetos, identidades e memórias, atravessando o tempo com intensidade e profundidade.

Em cena, corpos dançantes tornam visível o invisível: o sangue que pulsa, a placenta que nutre, o cordão umbilical que une e separa. São símbolos que materializam a conexão primeira, visceral e fundante entre dois seres. Através do movimento, a coreografia traça caminhos que revelam os pesos e as delicadezas de uma ligação feita de cuidado, ausência, presença, expectativa, amor e contradição.

Rebento evoca o nascimento, o broto, o romper — aquilo que insiste em viver e que carrega, no gesto, memórias ancestrais e pessoais. Os intérpretes ressignificam a figura materna em muitas formas e nuances, abrindo espaço para um corpo masculino que sente, que recorda, que se afeta. Eternamente.

É uma obra que pulsa no território das emoções profundas e convida o público a revisitar suas próprias histórias. Porque todo rebento carrega em si a origem — e também a urgência de crescer.

REBENTO é um projeto do Laboratório da Dança Fernanda Araújo, inscrito e aprovado pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura e Economia Criativa através do Fomento CULTSP PROAC 23/2024 referente a PRODUÇÃO E TEMPORADA DE ESPETÁCULO DE DANÇA INÉDITO, coreografado por Eduardo Menezes.

Temporada

Datas anteriores

Próxima data

DIREÇÃO GERAL E ARTÍSTICA
Fernanda Araújo

CO-DIREÇÃO
Felipe Santos

COREÓGRAFO
Eduardo Menezes

PRODUÇÃO E COMUNICAÇÃO VISUAL
Thaís Godoy

SONOPLASTIA
Eduardo Menezes
Helena Macchi

CONCEPÇÃO DE FIGURINOS E ADEREÇOS
Fernanda Araújo

FIGURINISTA
Sonia Recchia

ENSAIADORES
Ana Laura Bagarolo
Cintia Nogueira

ELENCO
Ana Laura Bagarolo
Dan Margato
Felipe Santos
Higor Yan
Igor Franco
Jenitton Anderson
João Pedro Alves
Juan Santos
Rafael Reis
Vinicius Ferreira

ILUMINAÇÃO
Valmir Leite
Ana Magagnin

FILMAGEM
Imaginario Filmes
Patrícia

FOTOGRAFIA
Helena Macchi
Kelita Padovese
Patrícia
Rudi Silva
Thaís Godoy

ENTREVISTA COM FERNANDA ARAÚJO
DIRETORA DO LABORATÓRIO DA DANÇA FERNANDA ARAÚJO


Nos conte sobre o seu projeto:
Rebento é uma obra sobre relação entre mãe e filho. E portanto sobre todos os nascimentos e renascimentos e pequenas mortes que existem dentro desta relação tão profunda. É um espetáculo dançado por um elenco masculino, mas inteiramente produzido, pensado e cuidado por mulheres. Essa escolha traz um simbolismo muito forte – corpos masculinos dando forma à uma sensibilidade profundamente feminina e humana. A obra fala sobre origem, sobre vínculo, sobre o que permanece mesmo quando tudo muda.


Como surgiu a ideia do seu projeto e de que forma o fomento cultural do Estado de São Paulo contribuiu para torná-lo possível?
A ideia surgiu de uma vontade de falarmos sobre o nascimento, não apenas o biológico, mas o emocional, o espiritual e o que nos reinventa e marca definitivamente. Ǫueríamos olhar para relação de mãe e filho e explorar seus tantos territórios como o amor, os conffitos, as dores e os renascimentos. Do parto ao partir. O apoio do PROAC foi essencial para que essa ideia pudesse se materializar. O fomento cultural do Estado de São Paulo nos deu condições reais de criar com profundidade, de reunir uma equipe técnica e artística incrível e de garantir que Rebento tivesse o cuidado e a qualidade que ele pedia. O espetáculo assim nasceu porque o fomento existe. Sem ele talvez ainda fosse só uma ideia. Um sonho a ser maternado.


Quais foram os principais desafios enfrentados durante o processo de inscrição e aprovação no edital de fomento?
Para além de imaginar o que esperam encontrar os avaliadores o desafio maior foi encontrar a forma certa de traduzir a emoção da ideia para o formato técnico de um edital. É sempre um exercício de equilíbrio colocar sentimento em planilhas e fichas técnicas, mas é também um processo que nos faz compreender melhor o projeto, o que queremos dizer, por que e pra quem. E essa clareza foi fundamental para que o Rebento acontecesse da forma que aconteceu. Outro desafio bastante exigente foi tirá-lo do papel após aprovação. Ǫuando escrevemos ele era um e custava um tanto, e quando ele nasceu precisava ser outro e custava um outro tanto. Fazer esse ajuste de elenco, produção e orçamento é um desafio e tanto, mas foi superado, vencido e honrado.

De que maneira o apoio financeiro e institucional impactou o desenvolvimento do seu trabalho artístico?
Impactou completamente. Foi transformador. O fomento deu tempo, estrutura e dignidade para o processo criativo e permitiu o nascimento da obra. Mas além do recurso financeiro, há um reconhecimento simbólico muito importante que a gente não pode deixar de citar. De um trabalho que fala de afeto, de nascimento, de vínculos, também poder ser arte. Também ser considerado cultura e merecer ser visto. O apoio institucional, portanto, nos permitiu fazer o Rebento fforescer com o cuidado que ele exigia e isso é muita coisa pra uma companhia de dança do interior, que fica distante da efervescência cultural dos grandes centros e que tem um elenco que ainda precisa de um outro trabalho além do artístico para se manter e existir com dignidade.


Você acredita que o fomento cultural chega de forma justa e acessível a artistas independentes ou periféricos?
Eu acredito que ele tenta e sei que temos avanços, grandes avanços. Mas também sei que há muito a caminhar. O fomento é uma política fundamental, mas o acesso ainda não é igual para todos. Muitos artistas, especialmente os independentes e periféricos esbarram na burocracia e na falta de informação. Talvez até na falta de entendimento do processo como um todo. Por isso eu penso que é muito importante que o estado continue investindo também em informação, orientação e acompanhamento. Eu vejo muitas ações nessa direção, fico feliz por elas, sei que elas não são completamente aproveitadas pelos artistas, mesmo aqueles ativistas e briguentos e que querem a sua aprovação. Mas eu continuo afirmando que democratizar o acesso é fortalecer a diversidade da arte e permitir que ela exista de fato com tudo o que pode e deve ser.


Como o seu projeto dialoga com o público e com o território onde foi realizado?
Rebento dialoga com público a partir da emoção mais universal que existe o amor entre mãe e filho. É uma relação que atravessa todas as classes, territórios e idades. E é por isso que o espetáculo toca as pessoas de maneiras tão diferentes e ao mesmo tempo tão igual. A cada cidade que visitamos encontramos histórias parecidas, lembranças despertas, silêncios compartilhados. É uma emoção danada. Essa troca é o que dá sentido à obra. Rebento é um espelho de todos nós em algum momento da vida. Por isso cabe em qualquer lugar, e é acolhido por todos os públicos. O que foi disposto a assisti-lo no teatro, o que foi alcançado por ele sem querer numa praça. E mesmo quem não imagina entender ou apreciar dança Contemporânea, acaba arrebatado quando se percebe já está todo tomado de emoção.

Que tipo de transformação pessoal, artística ou social você percebe após a realização do projeto, e de que forma essa experiência contribuiu para reafirmar o potencial artístico e profissional da dança fora dos grandes centros?
A experiência dos projetos, em geral, é sempre muito rica. Gente e arte são matérias tão compatíveis, quanto os obstáculos são certos nessas empreitadas. No Rebento especialmente tivemos um mergulho em temas muito íntimos – maternidade, ausência, saudade, continuidade. E ver corpos masculinos interpretando essas camadas de sensibilidade foi muito emocionante. Artisticamente ele reafirmou nossa crença na dança, como espaço de escuta, de empatia e de cura, não importa aonde esteja sendo dançado.
Fora dos grandes centros ainda existe resistência às obras de dança, especialmente dança contemporânea. As pessoas costumam achar que não gostam do que não conhecem. A temática de Rebento, entretanto, conversa com absolutamente todas as pessoas. Fazer algumas apresentações fora dos teatros, alcançando pessoas desavisadas, nos fez perceber a plateia potencial que pode ser formada se houver investimento em boas obras fora dos lugares habituais e das grande cidades. A arte precisa ir aonde o povo está. Vivemos boas trocas durante o projeto. Uma emoção bonita de tudo!


Há alguma etapa do processo de fomento (prestação de contas, divulgação, execução) que você acredita que poderia ser aprimorada?
A prestação de contas ainda é uma etapa bastante desafiadora. Principalmente para quem não tem uma estrutura administrativa, acho que formatos mais didáticos e acessíveis ajudariam muito. Talvez alguma ffexibilidade extra nas rubricas que descobrimos menos importantes ao longo do processo também ajudassem mais. Há coisas que a gente vai descobrindo que merecem ser melhor remuneradas e outras que podem ser reduzidas ou até retiradas do projeto. Também seria importante fortalecer a divulgação dos projetos contemplados. Há muitas obras potentes, com o nosso Rebento, que poderiam alcançar ainda mais pessoas se houvesse uma rede de comunicação mais ampla para além do que a gente cria como contrapartida do projeto.


G. Na sua visão, qual é o papel do Estado no fortalecimento da cultura e da produção artística local?
O papel do estado é garantir que a arte cheque a todos e que os artistas tenham condições de criar. Mais do que isso, o estado deveria garantir que as pessoas não precisassem desistir de seus dons e de sua arte para sobreviver. Cultura é um direito e o fomento é uma forma concreta de fazer esse direito existir. Ǫuando o estado investe em arte ele está investindo em educação sensível. Ele está abrindo horizontes, ele está possibilitando vida em abundância plena. E eu acho que o que transforma uma sociedade é o acesso àquilo que nos faz mais humanos.

O que você diria para outros artistas que pensam em se inscrever em editais de fomento, mas têm receio de não serem selecionados?
Eu diria que não temam e não desistam. Escrever um projeto é um processo bastante exigente e trabalhoso e mesmo quando o resultado não vem de primeira, e apesar das dificuldades, que a gente tem para desenvolvê-lo ele já ensina muito. Porque cada tentativa é um passo de amadurecimento muito importante que traz muitas importantes lições e a arte precisa de coragem, de insistência e de fé. Vale a pena! Até a gente aprender o jogo eu acho que a gente paga para trabalhar. Empata tudo, mas vale a pena mesmo. O Rebento existe porque em algum momento nós também arriscamos em escrever uma ideia.


Quais são os próximos passos do seu trabalho e como pretende manter viva a proposta do projeto após o término do apoio?
Rebento segue em movimento. Ele continua sendo estudado, pensado, cuidado, maternado e nós queremos leva-lo a outros espaços e continuar expandido esse diálogo sobre o vínculo definitivo, que é o amor entre mãe e filho. Cada apresentação, cada ensaio, é um novo nascimento da obra, que se transforma junto com o público, com o elenco, com o olhar de cada profissional inserido nele. Manter o Rebento vivo é permitir que ele continue brotando aonde houver afeto, memória e desejo de recomeçar. Nós estamos prontos para mais e desejosos de que possamos continuar com o apoio do estado sem o qual muito pouco podemos. Lá vamos nós para o Edital de Circulação de dedos cruzados e o peito aberto para viver mais uma emoção.